Ansiedade e solidão são fatores de risco à economia global, diz estudo

janeiro 23rd, 2019 | Posted by sinmet in Novidades

Na era da ansiedade, não há como negar os riscos que as emoções negativas e as tensões psicológicas desencadeadas pelo ritmo acelerado da vida moderna oferecem à economia do planeta. E tudo indica que eles estão em alta. Pode parecer conversa de livro de auto-ajuda, mas, na ponta do lápis, os problemas relacionados à saúde mental dos indivíduos mundo afora custam caro. Foi exatamente por esta razão que o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) decidiu incluir, pela primeira vez, no seu relatório anual “Riscos”, mais estes problemas na longa lista de ameaças que desafiam o crescimento econômico e a estabilidade planetária para os próximos anos.

– Há alguns anos, eu vinha pensando em como incluir esta questão no relatório. É uma parte importante do que temos tratado. As experiências emocionais e psicológicas da vida diária, pessoal e profissional, devem ser contabilizadas. Estamos falando de não ter um emprego, ou ter, mas ter uma salário muito baixo, sentir-se inseguro diante da automação, viver em uma sociedade mais polarizada, onde há um crescimento da oposição raivosa que define em processos politicos, em vez de uma oposição construtiva – disse ao GLOBO Aengus Collins, chefe da Agenda de Riscos Globais e Geopolítica do WEF, um dos autores do relatório.

Até 2018, o documento limitava-se a tratar dos impactos de cifras dos mercados financeiros e de questões estruturais – como sistemas sob estresse, instituições que já não se adequam aos desafios do mundo moderno e impactos adversos de políticas e práticas – como fatores de risco à economia global. Mas tudo isso, somado à velocidade dos avanços tecnológicos e da informação, se traduz em tensões psicológicas e emocionais sobre os indivíduos. E isso também gera custos. Estima-se em 700 milhões o número de pessoas afetadas por problemas mentais pelo mundo.

Os problemas relacionados à saúde mental custaram US$ 2,5 trilhões ao mundo em 2010. Deste total, dois terços correspondem a despesas indiretas, como queda na produtividade, aposentadoria precoce, entre outros. Um terço equivale aos custos de diagnóstico e tratamento das doenças. Os dados foram levantados por pesquisa do WEF e da Harvard School.

“Devem-se às mudanças complexas da sociedade, tecnologias e ambiente de trabalho, que têm profundo impacto na experiência das pessoas. Um tema comum é o estresse psicológico da falta de controle sobre as incertezas”, diz o estudo.

O documento afirma que pesquisas recentes mostram uma tendência de crescimento do sentimento negativo das pessoas (dor, preocupação e tristeza), que bateu o nível mais alto dos últimos cinco anos. Os sentimentos positivos mantiveram-se estáveis no período. Mas, segundo o relatório, a tendência é preocupante. De acordo com a pesquisa Gallup, que, anualmente, mede o estado emocional dos entrevistados, em 2017, quase quatro em dez pessoas disseram ter tido uma experiência triste no dia anterior; três em dez experimentaram dor física; e duas em dez, raiva. E, por mais que esta última ainda não seja preponderante, este está sendo definido o sentimento do ‘zeitgeist’.

“Alguns sugerem que esta é a ‘era da raiva’, ao notar um tremendo aumento no ódio mútuo. E, ainda que a raiva pública possa ser unificadora e catalisadora – uma esperança em geral identificada no começo da década em relação à Primavera Árabe -, ela passou a ser vista mais como policialmente divisora e socialmente corrosiva”.

Segundo o WEF, no século XIX, a saúde física, bem como as regras e práticas de segurança redefiniram o sistema de trabalho em muitas economias industrializadas. Mas, no século XXI, é a saúde mental, associada a regras de proteção e práticas, que vai determinar se as condições no ambiente de trabalho são apropriadas para o crescimento da economia baseado no conhecimento.

Segundo Collins, não se pode mitigar um tipo de risco, criando outro. Isso significa quee é preciso estar atento também ao indivíduo. Deve-se buscar um equilíbrio entre as esferas globais, regionais e nacionais, garantindo que o indivíduo se sinta parte das decisões que estão sendo tomadas.

– Não é um processo fácil. Vivemos num mundo complexo, marcado pelo avanço da tecnologia, velocidade das informações, de novas mídias.

O relatório ainda destaca os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), que apontam para aumento das disfunções ligadas à depressão e à ansiedade em 54% e 42%, respectivamente, entre 1990 e 2013. No rol da lista de problemas que terão afetado as emoções da população mundial estão desde a solidão das cidades grandes, onde há um percentual cada vez maior de imóveis ocupados por apenas uma pessoa, até os efeitos do excesso de internet, da rapidez da tecnologia, da automação da produção industrial e até dos desentendimentos politicos na sociedade. O WEF menciona estudo recente realizado nos Estados Unidos, que indica que, antes, a população exprimia frustração nas disputas politicas, e hoje é raiva. Pesquisa realizada em 2016 durante a eleição presidencial que levou o republicado Donald Trump ao comando da Casa Branca, mostra que quase um terço dos entrevistados pararam de falar com um membro da família ou com amigos.

A violência também provoca medo na população e em efeitos sobre a saúde mental das pessoas. E o relatório destaca, por exemplo, que, embora a taxa de homicídios tenha caído na última década, esse é um problema que afeta as regiões de maneira distinta. “Na América Latina, onde estão 8% da população global, registram-se 33% dos assassinatos.

(Fonte: O Globo)

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